Policiais contam que Wanderson não demonstrou arrependimento durante depoimento
Wanderson Mota apareceu ontem em uma fazenda de Mocambinho e aceitou ser levado à delegacia de polícia. Em depoimento, o caseiro confessou ter matado a companheira grávida, a enteada e um vizinho
Correio Braziliense
Acusado de uma série de crimes, dentre eles o assassinato de três pessoas em Corumbá de Goiás, o caseiro Wanderson Mota Protácio, 21 anos, apresenta uma personalidade fria e dissimulada, como a polícia o define. Após seis dias de buscas, o criminoso se entregou ontem, por volta de 7h30, em Gameleira, depois que a proprietária de uma chácara, Cinda Mara Siqueira, o convenceu a se apresentar. Segundo o secretário de Segurança Pública de Goiás, Rodney Miranda, Wanderson “não demonstra arrependimento” de ter matado a companheira e a enteada em Corumbá de Goiás. “Trata (o assunto) com frieza, assim como em outros crimes que cometeu”, afirma.
Wanderson passou a ser procurado após a jovem, grávida de 4 meses, Raniere Aranha, 19, e a filha dela, Geysa Aranha, de 2 anos e 9 meses, serem mortas a facadas, dentro de casa. O caso aconteceu no último domingo. Depois disso, ele foi até a fazenda do patrão, onde furtou um revólver com seis munições, deslocou-se até uma propriedade vizinha e matou o fazendeiro Roberto Clemente de Matos, 73. Lá, tentou estuprar a esposa dele. Depois, Wanderson fugiu para Alexânia e chegou a visitar uma igreja evangélica.
O histórico violento de Wanderson precede os crimes recentes. Aos 13 anos, matou um homem no Maranhão. O Correio apurou com fontes da Polícia Civil de Goiás que, à época, Wanderson namorava uma adolescente. Em determinada ocasião, a menor teria sido agredida pelo tio. Incomodado, o caseiro chamou a atenção do familiar e pediu que parasse de bater na garota. Segundo a polícia, Wanderson relatou, durante o interrogatório, que o tio da adolescente pediu para ele ficar quieto, caso contrário, o mataria. Wanderson, então, pegou uma faca e assassinou o homem. Depois do crime, ele fugiu para Goianápolis, onde morava com parentes.
Já em 2019, Wanderson foi preso pelo crime de tentativa de feminicídio contra uma mulher, cunhada do pai dele. Segundo consta nos autos do processo, a vítima recebeu diversos golpes de faca nas costas. A discussão começou após o caseiro chegar em casa alcoolizado e sob efeito de drogas. Na casa, ele ameaçou a mulher, ordenando que entrasse em um quarto com ele. Após a negativa, o homem desferiu os golpes de faca, mas a arma branca acabou quebrando. Wanderson fugiu pulando os muros e se escondeu em uma casa próxima. O criminoso chegou a ser detido na Unidade Prisional de Goianápolis, mas ganhou a liberdade em março de 2020.
No mesmo ano, em São Gotardo (MG), a quase 550 km de distância de Brasília, Wanderson matou um taxista. A vítima era Maurício Lopes Mariano, de 25 anos. O caseiro teve ajuda de dois menores e de um adulto. Segundo o boletim de ocorrência, o agressor pegou a corrida junto com outras três pessoas e desviou o trajeto no caminho. Ao entrarem no carro, cortaram o cinto de trás e usaram para arrastar o taxista até uma árvore. O documento comunica que a intenção dos homens era roubar o carro e deixar o taxista no local, mas Wanderson decidiu voltar até o condutor e efetuar 18 golpes de faca.
“Hora de se entregar”
Cinda conta, ainda, que, durante todo o tempo Wanderson ficou com o revólver na mão. “Levei ele até a cozinha, estava com muita fome. Peguei uma camisa do meu marido e o entreguei, porque ele também estava com frio. O tempo todo ele estava com a arma na mão. Depois ele disse que ia embora porque a polícia ia chegar e prendê-lo”, recorda. Quando o esposo da fazendeira estava chegando em casa, Wanderson quis fugir, mas Cinda salientou ao acusado que era o momento de se entregar às autoridades. “Ele queria ser levado para Corumbá de Goiás, mas meu marido disse que não, que estávamos em Gameleira e que o levaríamos para lá. Ele entregou a arma e fomos”, explica.
Com fome e frio, Wanderson apareceu na manhã de ontem em uma fazenda em Mocambinho, distrito de Gameleira. Cinda Mara Siqueira, moradora que o convenceu a se entregar, conta os momentos de medo que viveu ao lado do foragido. “Era em torno de 6h30 da manhã, meu esposo saiu para buscar leite em outra fazenda quando ele (Wanderson) bateu na janela com o revólver, apontou a arma para mim e disse que ia me matar”, relata. De acordo com Cinda Mara, Wanderson estava com medo do cerco da polícia e de morrer. “Disse que estava com fome. Consegui manter a tranquilidade para não me exaltar e não demonstrar que estava com medo dele. Eu fui fria”, pontua.
Durante coletiva de imprensa, Cinda também explicou a selfie que tirou com o suspeito para provar que estava com o foragido. “O que estava acontecendo é que muitas pessoas passavam informações desencontradas. Aí eu disse para ele (Wanderson) se deixava eu tirar uma foto. Eu tive o discernimento de mandar a foto para o prefeito de Gameleira e ele enviar para algum policial”, detalha.
Religiosa, Cinda reiterou, ainda, que foi Deus que a protegeu. “Naquele momento que ele (Wanderson) estava aqui eu sentia a presença de Deus”, reforça. Após as oitivas, Wanderson foi levado para o Instituto Médico Legal (IML) e logo depois para o Núcleo de Custódia de Aparecida de Goiás.
Justiça
Os familiares de Raniere Aranha, 19 anos, e de Geysa Aranha, 2 anos e 9 meses, tentam lidar com a dor enquanto buscam por justiça. Foram dias de sofrimento até que o criminoso se entregasse. Para o motorista de caminhão e morador de Corumbá de Goiás Odair José Coelho, 43 anos, tio de Raniere, que estava grávida de 4 meses, o desejo é de que ele pague pelo que fez e pelo sofrimento que causou.
Após ficar sabendo que o Wanderson se entregou, Odair e a família se sentiram aliviados. “Que a justiça de Deus seja feita. A gente pede muito isso, porque não vai trazê-las de volta, mas pelo menos ameniza um pouco da dor que estamos sentindo”, conta. “Quem é a gente para condenar os outros, mas a prisão para ele é pouco pelo que ele fez”, acrescenta Odair.
O tio pede orações e acredita que a fé em Deus vai ajudar a amenizar tamanha dor. “A gente tem pedido muita oração para confortar nossos corações, principalmente para quem tem menos estrutura, como é o caso do meu irmão (pai da Raniere)”, ressalta o motorista. Ele explica que o pai da jovem sofre com o alcoolismo e precisa de ajuda da família, além de temer uma piora após a perda da filha e da neta. “Meu irmão estava desesperado sem coragem de entrar na própria casa depois do que aconteceu”, comenta Odair.